domingo, 29 de dezembro de 2013

Todos Contra a Criminalização dos Movimentos Sociais


                       
   Criança ergue cartaz contra a prisão injusta de Serginaldo Santos. A família dele foi mais uma das beneficiadas com a campanha do MLB "Natal Sem Fome"
      
Na manhã do dia 27 de dezembro do corrente, dois policiais “à paisana”, invadiram a casa Serginaldo dos Santos, presidente da CMP (Central de Movimentos Populares de Pernambuco) e coordenador do MLB (Movimento de Lutas nos Bairros, Vilas e Favelas), prendendo o mesmo, após empurrar e ameaçar seus dois filhos adolescentes. Levaram Serginaldo para o presídio. A acusação: “Ter cometido extorsão aos comerciantes do shopping Tacaruna, após uma ação do MLB durante a campanha anual do movimento, chamada “Natal solidário”, onde várias famílias carentes se reúnem para reivindicar cestas básicas e brinquedos em diversos estabelecimentos milionários ao redor do Brasil”.

O mandato de prisão foi articulado pelos donos do Shopping, especialmente após o movimento ter organizado outro ato, semelhante ao do ano passado, dessa vez no shopping recife, dia 20 desse mês. Segundo os donos do shopping Tacaruna, tal atividade é “um perigo para o shopping e os consumidores”. Uma verdadeira “jogada” orquestrada pelos donos dos shoppings da capital pernambucana.

O que não se fala é que, apesar de acusado, Serginaldo se quer esteve no estabelecimento citado no dia 20. O ocorrido foi, de fato, uma tentativa (mais uma) de criminalizar os movimentos sociais, reprimir o direito de várias famílias pobres pedirem, aos mais favorecidos, o direito de fazer uma ceia digna com sua família no natal, isso, inclusive, é um preceito cristão, bíblico, que parece ter sido esquecido pelos abastados empresários donos dos shoppings de Recife: “dar de comer a quem tem fome”, “repartir o pão”...

O fato é que, a cada ano, mais de 50 milhões de brasileiros amargam não terem condições de suprir suas necessidades básicas, ou moram precariamente. Todos sabem que o Brasil é o país da contradição: de um lado a seca que já matou milhões, do outro as chuvas, como no caso de Minas e Espirito Santo, ou do shopping Tacaruna, que anunciou recentemente que expandiria sua estrutura para 2014, com um custo de R$90 milhões, mais R$10 milhões para revitalizar a parte antiga do shopping, tudo isso com recursos próprios, enquanto criminaliza cerca de 200 famílias carentes, que só pediam uma cesta básica para ter uma ceia de Natal.

Serginaldo foi levado para o COTEL, mas a resposta dos movimentos sociais foi rápida. Imediatamente o MLB organizou uma vigília em frente ao presídio, exigindo a libertação do companheiro, além de vários movimentos sociais organizados e autoridades políticas articularem para buscar informações. Como sempre a mídia se calou para abafar o caso.

Na manhã do dia 28 mais de 50 companheiros continuavam a vigília em frente ao presidio. À tarde, mais de duzentas pessoas se concentravam em frente ao fórum de justiça de Recife, onde o juiz entendeu que as acusações eram infundadas, assinando o Habeas Corpus e ordenando a soltura de Serginaldo. Uma prova de que a mobilização social e o espirito combativo do povo trabalhador foram fundamentais e continuam sendo decisivos para mudar o rumo das coisas. Serginaldo foi libertado, mais, com certeza, a luta não vai parar, especialmente enquanto persistir a perseguição e a criminalização dos movimentos sociais em nossa sociedade. O movimento Resistência esteve presente na luta pela libertação de Serginaldo, e se coloca contra qualquer tipo de perseguição aos movimentos sociais.



                             (Serginaldo Silva em ato contra o aumento das passagens em Recife)

domingo, 22 de dezembro de 2013

A Regulamentação do Historiador e as Perspectivas do Profissional





 

Aconteceu no ultimo dia 12 de novembro de 2013 um encontro intitulado A Regulamentação do Historiador e as perspectivas do Profissional. O evento foi organizado pelo Coletivo - História: Unidade e Luta e com o apoio do Movimento Resistência e a União dos Estudantes de Pernambuco – UEP. Estiveram presente o Profº Antonio Paulo Rezende, Professor lotado no departamento de História da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), o Professor da UFRPE e Diretor Estadual da Asociação Nacional de História (ANPUH), Lucas Victor, Renato Motta, Arquivista da UFRPE e a professora Giselda Brito, Coordenadora do Curso de História da UFRPE e  Camila Falcão, estudante de história da UFRPE; diretora da UEP. O debate ocorreu na sala de Seminariodo CEGOE – UFRPE.


Mesa debatedora: (esquerda para direita) Camila Falcão - UEP; Giselda Brito - UFRPE; Antonio Paulo Rezende - UFPE; Renato Motta - Arquivista - UFRPE; Lucas Victor - UFRPE - ANPUH.
 O debate foi centralizado no Projeto de Lei 4699 de 2012 de autoria do Deputado Paulo Paim – PT/RS.

A regulamentação da profissão de historiador se faz necessário para que se possa corrigir um erro histórico com esta categoria. A luta pelo reconhecimento profissional se inicia no ano de 1968, porém o projeto de lei que visava este reconhecimento foi arquivado por intervenção direta dos representantes da ditadura Militar no congresso, isto pelo fato de a proposta de regulamentação profissional advir do Movimento estudantil, uma das principais forças de contestação ao regime militar. Do ano de 1968 a 2013 mais outros 8 projetos foram negados por representantes do povo na Câmera Federal fazendo com isto provocasse grande indignação dos idealizadores e daqueles que esperavam a regulamentação desta profissão que presta um grande serviço a nossa sociedade, tendo como objetivo manter vivo o espírito crítico entre os homens e não nos fazer esquecer o nosso passado de luta!
Em meados do ano de 2009, contrariando as iniciativas anteriores de regulamentação profissional (No Senado Federal nunca havia sido apresentada uma proposta visando à regulamentação da profissão de Historiador) o Senador Paulo Paim apresenta o Projeto de lei 4699/2012, este visa à regulamentação de historiador e da outras providências.
Até então este PL tem logrado vitórias significativas o que reascende a esperança de milhares de profissionais e estudantes interessados em serem reconhecidos e valorizados enquanto profissionais historiadores!
Estudantes de História - UFRPE

Se não for interposto recurso, decorridas cinco sessões ordinárias do Senado Federal a matéria seguirá para a Câmara Federal onde não estará sujeita ao arquivamento nos termos do Artigo 105 do Regimento Interno da Câmara dos Deputados, ou seja, por transcurso da legislatura, já que o inciso III deste artigo exclui os projetos que tenham transitado pelo Senado, ou seja, dele originários dos casos de arquivamento pelo fato da matéria não ter sido analisada no decorrer da legislatura. A grande vantagem de se ter um projeto aprovado pelo Senado é que enquanto os projetos em tramitação na Câmera Federal podem ser arquivados ao final da legislatura, os projetos de autoria do Senado Federal tem que ser obrigatoriamente analisado pela Câmera Federal.

Caso o PL 4699/2012 seja aprovado pelo Senado Federal e Pela Câmera Federal, a lei regulamentará profissão de historiador, estabelecerá os requisitos mínimos para o exercício da atividade profissional e determinará o registro do profissional em órgão competente!
Com a aprovação do referido PL a população só tem a ganhar, pois antes de tudo o Profissional Historiador é antes de tudo um pesquisador, um crítico, um estudioso.
Como disse o historiador francês Georges Duby, os profissionais de história oferecem um valioso serviço a nossa sociedade, pois sua obrigação enquanto profissional é manter vivo o espírito critico entre os homens. O Historiador tem como sua razão de ser, os homens vivos. Estudam e produzem história para que se possa melhor conhecer e transformar vidas. São as agitações e os interesses presentes que os incentivam a estudar o passado para que se possa identificar e analisar criticamente as condições para compreensão, intervenção e transformação do presente na busca da construção de uma sociedade mais justa e igualitária.
Fontes consultadas:
Blogs Unigranrio, Câmera dos Deputados e Dossiê Sobre a Regulamentação da Profissão de Historiador.

terça-feira, 26 de novembro de 2013

Reitoria se Reuni com Estudantes da UAST em Resposta a Carta Entregue ao MEC e a Presidente Dilma



Reitora Recebe "Carta aberta" do Movimento Resistência


Dia 22 de Novembro os estudantes da UAST se reuniram com a reitora Maria José de Sena, para discutir a situação da unidade acadêmica, a mesma lidera um ranking de obras paradas no país. A reunião foi marcada pela reitoria da UFRPE para responder a “Carta Aberta” do movimento Resistência, entregue a presidente Dilma em visita a Serra Talhada no início do ano. A carta também foi entregue ao MEC e ao vice-reitor, em visita a unidade durante a aula magna de 2013.1.

A situação da unidade é alarmante, enquanto vemos dinheiro público sendo investido em outras coisas como o Mensalão ou na Copa do Mundo. “A Arena Pernambuco ficou pronto em dois anos, mas as obras da UAST estão paradas dês do início da instituição em Serra Talhada”, disse Rita Silva, estudante de Letras da UAST, representante discente no Conselho Técnico Administrativo da UAST.

Na reunião esteve presente a diretora da unidade, Kátia Maria, que, junto com a Reitora, explicou a situação das obras da unidade e falou sobre temas de interessa da comunidade acadêmica, como a construção do RU e o problema da venda de lanches no campus. Para Luís Carlos Júnior, estudante de Economia da UAST, integrante do movimento Resistência, “Só a nossa mobilização pode acabar com essa situação de nossa educação, assim como fizemos nas manifestações de junho, onde os estudantes da UAST estavam em peso, denunciando a situação de nossa unidade”.  








Detenção de Jovem na UAG Gera Debate Sobre Racismo e Preconceito na UFRPE


Jovem algemado gera debate sobre a discriminação dentro das universidades
 

Um dia após a data de comemoração da consciência negra, dia 21, houve um fato na UAG-UFRPE que deixou a comunidade acadêmica indignada: Um jovem entrou em um dos laboratórios de informática da UAG para acessar a internet. Ao perceber que o mesmo não era um estudante da unidade, a instituição acionou a segurança, que o abordou em tom de arrogância, segundo estudantes que estavam presentes no laboratório. O jovem, de nome Felipe, tentou se defender alegando que não fazia nada de errado, que era uma pessoa de bem e que só estava ali para acessar a internet, com urgência, e que não estava cometendo nenhum crime. Poucos minutos depois, a polícia militar apareceu na UAG, colocou sua viatura em uma das passarelas, onde passam estudantes de um prédio a outro, entrou no laboratório, agredindo o rapaz na frente de vários estudantes, levando o jovem algemado.

Ao tentarem colocá-lo dentro da viatura, o rapaz se proclamou inocente na frente de todos, alegando que estava sendo vítima de discriminação social e racial. Logo após isso, os policiais o mandaram calar a boca e afirmaram que “a constituição não valia de nada e se Dilma levou na cara na ditadura, quem seria ele para não apanhar?”, batendo novamente na cabeça do jovem com um capacete de ciclista (vários vídeos foram feitos do ocorrido).

Todos ficaram abismados com a truculência e o modo de resolver o caso, deixando claro que se tratava de um caso de discriminação. Minutos depois, para justificar a sua truculência, os policiais afirmaram que o andarilho estava traficando drogas dentro da universidade e por isso representava um grande perigo. Para a nossa surpresa, quando os policiais foram revistar as coisas dele, que estavam em sacolas numa bicicleta estacionada, foram encontradas apenas frutas, como mangas, e laranjas, em outra, roupas, livretos de cordel e rabiscos. "Eu sou poeta cordelista", afirmou o jovem, já algemado.

 É evidente que a UAG precisa de mais segurança, uma segurança que receba as instruções de como intervir em cada caso. Reivindicamos segurança várias vezes, aqui na UAG, em meio a tantos assaltos que já aconteceram, como no ano de 2011, onde o movimento Resistência organizou uma audiência pública na câmara de vereadores de Garanhuns para solicitar segurança para o campus e iluminação.

O que realmente indigna a comunidade acadêmica da UAG é o fato da polícia nunca estar “à disposição” quando realmente se precisa, como no caso do entorno da unidade que fica desprotegida durante a noite, por exemplo, e já foi motivo de várias queixas dos estudantes, técnicos e professores. Outra preocupação é com a segurança interna da universidade: ao mesmo tempo em que permite a entrada de pessoas sem uma identificação, não está preparada para certos tipos de situações, como essa. Constrangimento maior teria sido evitado se houvesse uma comunicação real entre a comunidade, a diretoria do campus e a segurança. Se ele foi utilizar a internet, quem o autorizou quem procurou o rapaz para lhe liberar (ou não) ao uso do laboratório de informática da UAG? Por que o jovem não poderia utilizar a internet da instituição, sendo ela uma universidade publica?


Outras questões que levantaram polêmica, além da repressão policial e a clara discriminação social e racial, é como a universidade lida com diversos ocorridos. Em 2011 o estudante da UAST, Cloves Silva, na época diretor do DCE-UFRPE, foi levado pela polícia após dirigir um ato na unidade acadêmica de Serra Talhada pela continuação das obras paradas. O estudante foi detido e acusado, após a própria direção chamar a polícia. Não podemos deixar passar que a nossa universidade ainda possui vários resquícios da ditadura militar, prova maior são seus estatutos, inda da época dos generais da ditadura. Talvez, se o jovem fosse branco, estivesse com um carro ao invés de se negro e estar com uma bicicleta ele não teria passado por tudo isso.

O movimento Resistência na UAG e os estudantes exigem uma resposta por parte da polícia e da administração da UFRPE. Até quando iremos ver esse tipo de situação acontecer com nossos jovens no país? Não podemos aceitar que a cor da pele ou a aparência sejam critérios para se decidir quem é ou não bandido nem sirva de pretexto para reprimir a juventude. Já basta ver a truculência como a polícia trata os estudantes quando organizam alguma manifestação, como ocorreu na USP recentemente ou como no caso da extrema violência como no caso do Amarildo, no Rio de Janeiro. Repudiamos esse tipo de abordagem, a falta de diálogo e todo e qualquer tipo de discriminação social e racial dentro de nossa universidade.

 

Isadora Alves, estudante de Agronomia da UAG e diretora da UEP

domingo, 24 de novembro de 2013

Calourada Comemora Dia da Consciência Negra na UFRPE






As questões relacionadas às formas variadas de opressões, ainda que pertinentes e vivenciadas cotidianamente na sociedade, não são tratadas de maneira adequada. O tema passa a ser pouco debatido, e quando acontece, é feito de forma rasteira e isolada. Racismo, machismo, homofobia são um reflexo negativo de uma sociedade de classes, onde, a maioria passa a ser oprimida por uma minoria. Em nosso País, do dia 20 de novembro foi dedicado a Consciência Negra. Mas, será que essa consciência está sendo levado à serio? A grande maioria dos jovens marginalizados é negra. Nas universidades públicas, o número de estudantes negros ainda é reduzido, e isso acontece porque a grande população pobre do nosso País é constituída por negros.
Ainda existe muito preconceito. Ainda há muito que se discutir. Politicas públicas precisam ser levadas a serio quando se trata desse tema. O matiz da nossa diversidade cultural está constituído na alegria, coragem e força de luta dos negros escravizados a partir de 1500.
No dia 29 de novembro a partir das 18h na quadra do DCE, ocorrerá a atividade cultural para falar e viver a consciência negra. Mostrar o brilho, cor e animação dos ritmos africanos em nossa terra. A Sexta Negra com Dandara, homenageia na mulher guerreira, companheira do Zumbi do Palmares, todos os filhos e filhas do quilombo.

Somos todos negros! Somos todos Dandara! 
Movimento Resistência e UEP recepcionam calouros na UFRPE e denuncia: enquanto o governo entregam nossas riquezas, milhões de jovens não conseguem cursar o ensino superior.

Foi com espirito de Rebeldia, conscientização política e muita alegria que os calouros da UFRPE, campus SEDE em Recife foram recepcionados pelo movimento Resistência e a União dos Estudantes de Pernambuco, no dia 21 de outubro, mesmo dia em que ocorreu o leilão do Campo de Libra. Os calouros mostraram toda felicidade por ter começado uma nova fase rumo à tão esperada carreira profissional, mas, também, compartilharam da indignação quanto à desvalorização e mercantilização da educação em nosso país e a privatização do nosso petróleo. O movimento Resistência e a UEP – Cândido Pinto, parabenizaram os calouros da melhor maneira possível, fazendo a denuncia quanto à privatização das nossas riquezas e convocando todos os estudantes a construírem as lutas por uma Universidade pública, gratuita e de qualidade aberta para o povo. Não é justo que um país com a 6º maior economia do mundo e com extensão continental, possua pouco mais de 60 universidades federais e que todos os anos milhares de jovens deixem de entrar nas universidades e que centenas abandonem seus cursos a cada semestre, por não terem políticas eficazes de permanência.

Camila Falcão, estudante de história - SEDE. vice-presidente RMR - UEP

O ensino superior em nosso País, infelizmente, ainda é privilégio de poucos. Milhões de jovens todos os anos deixam de entrar na Universidade e assim, interrompem seus sonhos. Com mais de 7,1 milhões de inscritos no ENEM 2013, e com uma média de apenas 1,1 milhões de jovens que conseguem vaga no ensino superior, sendo - 500 mil vagas pelo Programa Universidade para Todos (Prouni), 300 mil pelo Fundo de Financiamento Estudantil (Fies) e 300 mil nas universidades federais - representando pouco mais de 15% dos inscritos no Enem que terão acesso aos cursos superiores.
Em contra partida, todos os anos o Governo Federal gasta cerca de 42% de todo seu orçamento para pagar uma dívida pública que já não existe, gasta milhões na construção de estádios de futebol para uso da FIFA. Privatiza bens do povo brasileiro em favor dos grandes monopólios Norte-americanos e Europeus, chegando a leiloar mais uma de nossas riquezas, o Campo de Libras na Bacia de Santos. A maior reserva do pré-sal do País, que chegará a produzir 1,4 milhões de barris de petróleo por dia.

Com tudo, o povo brasileiro é quem sofre as consequências desses danos. A juventude mostrou durante o mês de junho e julho deste ano que deseja um país mais justo, verdadeiramente democrático. Queremos um Brasil que valorize a educação, que coloque os anseios do povo em prioridade, e que a juventude, o trabalhador, a mulher não precisem mais escolher entre realizar seus sonhos e encarar uma vida de sacrifícios e exploração. A universidade deve ser aberta para o filho do trabalhador, garantir que o jovem ingresse no ensino superior sem ter que passar por processos seletivos injustos que distanciam do povo o acesso à universidade pública. Só na luta é que vamos garantir nossos anseios, pois só conquista quem luta!

sábado, 26 de outubro de 2013

Livro de Darcy Ribeiro Traz Um Debate Sobre o Papel da Universidade no Brasil



Capa do Livro, disponível nas bibliotecas da URFPE

     Se estivesse vivo Darcy Ribeiro estaria completando 91 anos hoje. Nascido em 26 de outubro de 1922 em Montes Claros, Minas, formou-se em antropologia em 46 e logo se dedicou ao estudo profundo da realidade dos povos indígenas de nosso Brasil, assim como a educação e o ensino em nosso país. Junto com Anísio Teixeira (um dos maiores educadores de nossa história) elaborou o projeto da Universidade de Brasília, tornando-se seu primeiro reitor. O projeto para a UNB era que a mesma se se torna um modelo de universidade para todo o Brasil, veio e golpe de 64 e mudou todo o rumo da instituição.
     O regime militar acusava diversos professores de terem tendências Marxistas e subversivas. Exilado, Darcy vive no Uruguai. De volta ao Brasil dedica-se de vez a causa social, junto de Leonel Brizola desenvolve vários projetos nessa área. Em maio de 84 é eleito o novo reitor da UNB, Cristovam Buarque, onde, na ocasião, Darcy Ribeiro faz seu pronunciamento passando o cargo para o novo reitor, que se tornou conhecido como “Universidade Para Quê?”, onde ele trouxe um debate sobre os rumos no ensino no Brasil e como a universidade deve seguir, na construção de um país verdadeiramente livre e soberano.
     De fácil assimilação e com uma linguagem direta, franca e aberta, Darcy traça um paralelo com os planos que havia antes do golpe de 64 e como ele via a missão das universidades brasileiras. Impossível ler esse texto sem comparar com a atual situação de nosso ensino. Uma boa leitura e está disponível em nossas bibliotecas da UFRPE. Darcy Ribeiro faleceu em 17 de fevereiro de 97, deixando uma vasta obra acadêmica, científicas e romances.  
  



conheça um poucomais sobre a história da UNB:

                           http://www.unb.br/unb/historia/resumo.php

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Carta do Movimento Resistência a Reitoria e ao MEC (Na íntegra)

Resistência na UAST

                                                                     
     A Unidade Acadêmica de Serra Talhada completou sete anos em agosto desse ano. Portadora da enorme responsabilidade por ser filha de uma instituição de renome, centenária, com uma vasta história em nosso país, a UAST já inicia suas atividades com uma grande responsabilidade diante da comunidade pernambucana. Hoje, após inúmeras lutas, batalhas e conquistas, uma avaliação de nossa unidade se faz necessária e oportuna por seu amadurecimento político e por todas as recentes mudanças que vem ocorrendo no Brasil e que, por meio de muita luta, nossa pequena unidade de ensino se soma também a tal momento.



Bancada da UAST presente no 1° seminário de assistência estudantil da UFRPE
                                                                       Inicio
     A chegada da unidade por meio do REUNI nos traz algumas reflexões sobre a recente história do Brasil. Foi à histórica luta dos movimentos sociais e da população organizada de nosso país e região que possibilitou a ampliação das vagas no ensino superior gratuito. As chamadas “Reformas de Base” promovidas pelo governo de João Gullar, já visavam expandir o ensino superior por todo o país, isso no fim dos anos 50. Foi justamente por essas “Reformas” que sofremos o “golpe militar de 64”, visando frear os avanços sociais no Brasil. Nesse contexto a UFRPE se destacou, realizando inúmeros atos contra o regime ditatorial imposto, o que causou uma das maiores perseguições aos opositores da ditadura militar em nosso estado. A UFRPE foi cenário de muita combatividade, sendo o local onde mais teve estudantes, técnicos e professores presos, perseguidos ou proibidos de continuar vinculados a universidade. Odijas Carvalho de Souza, patrono do nosso DCE, é um exemplo dessa resistência contra esse regime.
As expansões ocorridas em todo o Brasil somam-se a inúmeras conquistas de nossa população e não um ato de bondade, como afirmam alguns. Se a universidade é um bem público, nada mais justo que se fazer uma análise crítica de como está sendo esse investimento nesse setor primordial. O REUNI, programa responsável por fazer essa expansão, merece duas observações com base naquilo que observamos no dia a dia de nossa unidade acadêmica:
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Passagem em Sala
                     A intenção: expandir o numero de universidades pelo Brasil, aumentando o numero de vagas é um avanço indiscutível e inegociável. Porém, analisar como se deu essa implantação do REUNI por parte do MEC, por si só, deixa claro como essa política se mostrou ineficiente e limitada, e não evitou o processo de “sucateamento” do ensino superior, antes visto apenas no ensino básico. Todas as instituições federais de ensino superior, que foram praticamente obrigadas a aderirem ao programa, hoje se queixam de inúmeros problemas referentes ao programa. Parece que o que prevaleceu mesmo foi uma visão meramente eleitoreira em detrimento da manutenção dos estudantes, técnicos e professores nas novas unidades de ensino. Com argumento de que “não dava pra esperar ficar tudo pronto para dar início às expansões” o governo inaugurou expansões por todo o país, muitas delas sem casas de estudantes, restaurante universitário ou um laboratório mínimo sequer;
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Ato em defesa da educação na visita de Dilma a Serra Talhada
                     O legado do REUNI: Essa atitude eleitoreira deixou um saldo de obras paradas por todo país, o baixo rendimento do ensino, pesquisa e extensão pelo interior e uma enorme evasão pela simples falta de estrutura ou problemas financeiros. Prova maior desse descaso foi à greve de 2012, maior greve dos últimos 20 anos, que parou o Brasil para uma reflexão sobre nosso trato com esse assunto. Enquanto a mídia dizia ser uma reivindicação em tono de questões salariais, as categorias unidas, professores, técnicos e estudantes, pautavam a situação da estrutura das universidades. A UAST liderou o ranking do MEC em obras paradas.
 
Reunião para debater a situação do transporte municipal em Serra Talhada


                                             Universidade, reflexo da sociedade

     O processo de sucateamento também da educação superior é fruto de uma falta de atenção e prioridade no Brasil. a 6º economia mundial ainda possui 12,9 milhões de analfabetos, amargando o 88º lugar em educação, entre 127 países pesquisados pela ONU sobre o assunto. Cerca de 5,3 milhões de jovens entre 18 e 25 anos estão, além de desempregados, fora das salas de aula. Mais: 15% dos jovens brasileiros estão no ensino superior. Desses 15% (6.739.689) 85% estão nas redes privadas de ensino (4.966.474) segundo o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (INEP).
Falar de investimento público em educação é falar em contradições gigantescas, como os 43,98% do orçamento da união, destinado para a “Divida Externa”, e somente 3,34% para o ensino, segundo dados da Auditoria Cidadã. Com um dos salários mínimos mais baixos do mundo (R$678, que equivale a U$340, ou seja, o mínimo mais baixo da América Latina) e com tudo aumentando, o sonho do diploma torna-se cada vez mais impossível.


Mesa-redonda com a atual diretora da unidade na época da campanha

                             O problema das universidades é a falta de investimento

     Pode até soar estranho, mas, para se formar, mesmo numa instituição pública, é preciso dinheiro. E esse é o principal motivo que impede nossos jovens de concluírem seus cursos. Em 2011 a Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (ANDIFES) encomendou ao Fórum Nacional de Pró-reitores de Assuntos Comunitários e Estudantis (FONAPRACE) um relatório sobre a situação do estudante universitário brasileiro. O resultado foi apresentado com o título de “Perfil Socioeconômico e Cultural dos Estudantes de Graduação das Universidades Federais Brasileiras”, trazendo dados valiosos para o debate sobre a situação acadêmica de nossas instituições, além de quebrar vários mitos sobre os estudantes brasileiros:

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             -Os universitários são ricos: 43,7% dos estudantes são oriundos das classes C, D e E, sendo 52% nordestinos;
·        -Políticas para as mulheres, como creche e residências, não são necessárias: 53,5% das vagas estão ocupadas por mulheres;
·        - Urgência na situação do transporte público e da mobilidade urbana: 56,5% dos universitários utilizam algum transporte coletivo para irem às aulas;
·         -Criação e ampliação do acesso aos Restaurantes Universitários: somente 15% dos estudantes tem acesso aos RUs no Brasil;
·         -Criação e ampliação das residências estudantis: somente 2,5% são atendidos com a residência estudantil.

     Outros dados levantados pela pesquisa mostram que outras pautas precisam ser levantadas em nossas instituições:

·         -Sistemas de Cotas: apenas 8,7% dos universitários são negros, mesmo o Brasil sendo considerado um país negro;
·    -O reduzido número de bolsas de manutenção estudantil: segundo a pesquisa, 15% dos trancamentos de matrícula são por motivos financeiros.

Ato pelo fim do "poeirão" e do monopólio da Erivantur

                        E como se traduz esses dados em nossa unidade acadêmica?

     A controladoria Regional da União em Pernambuco realizou uma auditoria na UFRPE e constatou que, de 2007 a 2011, 76% dos estudantes da UAST não conseguiram concluir seus cursos. Ao cruzarmos essa informação com o 1º lugar e obras paradas do país e outras coisas como a falta de um RU ou um transporte coletivo municipal adequado, entendemos como esse dado é real, apesar de triste.
Todas as obras da UAST não foram entregues a comunidade acadêmica: Biblioteca, Casa de estudante (masculina e feminina), prefeitura, lanchonete (que já se encontra ultrapassada, devido à quantidade de estudantes que hoje estudam na unidade) e laboratórios. Hoje os gastos locais com a manutenção na cidade acabam afastando os estudantes que vem de outras localidades: água, luz, telefone, aluguel, etc.
A evasão, junto com o jubilamento (método criado pela ditadura para expulsar e reprimir os estudantes) provoca esse esvaziamento que acaba gerando, em consequência disso, também, um gasto publico.


Primeira paralisação da unidade pelo fim do museu de obras da UFRPE
                                                     A educação que temos

Outro mito levantado é que a culpa pela saída dos estudantes é a forma como se dá o ingresso, hoje pelo o ENEM. Por ser uma ampla concorrência o ENEM acaba tornando-se quase um “bingo” em relação à entrada na universidade, ou seja: o estudante entra no curso apenas pelo simples fato de entrar, tirando, como isso, uma vaga para quem realmente gostaria de fazer o determinado curso. Engano: seis milhões de pessoas se inscreveram para fazer o ENEM em 2013, porém, não divulgam os meios de comunicação, que apenas 600 mil conseguirão a tão sonhada vaga no ensino superior público. Traduzindo: o problema é a falta de vaga, gerada pelo apoio cada vez maior das autoridades pelas instituições privadas, patrocinadas pelo PROUNI, por exemplo.
A educação que temos é fruto desse descompromisso com uma educação de qualidade. E não falta dinheiro, e sim vontade. Já foram R$86 bilhões para a Copa do Mundo “da FIFA”, a mais cara da história, com estádios sendo entregues no prazo, mesmo, alguns, tendo que manter a obra funcionando 24 horas por dia para cumprir essa “exigência” da FIFA.
Já o PNAES (Plano Nacional Assistência Estudantil), assinado em julho de 2010, pelo então presidente Lula, parece não fazer parte de nosso cotidiano enquanto unidade acadêmica. Visando a manutenção (que é diferente de Assistência) o PNAES é voltado para moradia estudantil, alimentação, transporte, atenção à saúde, inclusão digital, cultura e apoio pedagógico. Mas, o que vemos aqui em Serra Talhada? A casa de estudante está servindo de depósito, não temos um local com preço acessível para nos alimentar, e até os lanches que eram vendidos foram proibidos pela direção, como o caso de “Muskitur”, motorista, que vende lanches em seu ônibus, com preços acessíveis para a classe estudantil, mas foi proibido de negociar na unidade por parte da direção. Não temos transporte coletivo na cidade, serviço médico, internet de qualidade e eventos que estimulem a integração cultural dos cursos, como a exemplo da Gincana do Natal Solidário, ou o Fast Triátlon, por não termos uma quadra disponível, até para as aulas de educação física, realizadas no espaço da AABB, fora o fato de termos apenas uma assistente social na unidade para realizar todo o trabalho da PROGEST.


Charge sobre o transporte da UAST

                                                        A educação que queremos

Diante desse quadro que se encontra a educação no Brasil e em nossa unidade, a saída foi à mesma encontrada pelos lutadores de ontem e de sempre, seguindo o exemplo daqueles que transformaram a UFRPE nessa universidade centenária: a luta. Criado em 2008 na UAST, o movimento Resistência, que teve sua origem nos “Anos de Chumbo” da rural e já se encontrava na sede e na UAG, passou a intensificar as mobilizações em torno das necessidades dos estudantes “uastianos”.  O fim do “Poeirão”, as mobilizações pela pavimentação da estrada (hoje a menor BR do Brasil), o fim do Museu de Obras, assembleias, paralisações e ações no ministério público foram exemplos de como a mobilização é imprescindível para obter determinadas vitórias.
O estudante não está, de maneira nenhuma, acomodado ou satisfeito com essa situação da educação brasileira, exemplo disso foi às manifestações do Acorda Serra, contando com a participação massiva dos universitários bem como o ato da entrega da carta à presidente Dilma. A comunidade acadêmica vem cumprindo o seu papel. Entendemos que o desafio de ter uma universidade realmente capaz de impactar a sociedade, discutindo os problemas locais como a seca, a preservação da caatinga e a renovação cultural de nossa região, se faz necessário e é de todos. Para isso é preciso que se modifiquem as prioridades, colocando os interesses sociais e investindo num futuro de nossa comunidade.
Nessa perspectiva de luta temos visto a juventude tomarem as ruas. E, ao que tudo indica, tais mobilizações tendem a aumentar cada vez mais. A certeza que se tem é que não estamos apenas esperando. Por isso estamos no caminho certo.

                                                           Movimento Resistência, outubro de 2013